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Quando eu era pequena houve uma revolução a que se seguiu um sem-número de actos eleitorais, e eu gostava muito das campanhas.
Durante alguns tempos, foram uma das brincadeiras preferidas entre os catraios da vizinhança - transformávamos as casas em ateliers de pintura de cartazes que colávamos pelas redondezas, juntávamos o material iconográfico necessário e 'organizávamos' comícios, manifs, acções de rua. Guardo com especial carinho alguns episódios desses tempos: um bando de miúdos a descer a rua, bandeiras do PCP desfraldadas ao vento, enquanto colávamos cartazes do PPM ou da UDP ao som de palavras de ordem como «Uma só via: social-democracia» e o que mais à lembrança nos viesse a ocorrer. O perfeito exemplo da convivência democrática, toda a gente lá cabia.
Mudam-se os tempos... e agora não há época pré-eleitoral que não me dê vontade de fugir, tirar férias, hibernar - é triste viver num tempo em que tudo se dispersa de tal forma que já nada se discute em termos, em que se considera legítimo impingir ideias como quem vende detergentes, em que, mais do que o seu conteúdo, se valorizam as formas como se apresentam os argumentos. Tanto barulho, minha gente, e se espremido sai tão pouco...
Não haverá maneira de dispensar todo este festival?
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Quando eu era pequena houve uma revolução a que se seguiu um sem-número de actos eleitorais, e eu gostava muito das campanhas.
Durante alguns tempos, foram uma das brincadeiras preferidas entre os catraios da vizinhança - transformávamos as casas em ateliers de pintura de cartazes que colávamos pelas redondezas, juntávamos o material iconográfico necessário e 'organizávamos' comícios, manifs, acções de rua. Guardo com especial carinho alguns episódios desses tempos: um bando de miúdos a descer a rua, bandeiras do PCP desfraldadas ao vento, enquanto colávamos cartazes do PPM ou da UDP ao som de palavras de ordem como «Uma só via: social-democracia» e o que mais à lembrança nos viesse a ocorrer. O perfeito exemplo da convivência democrática, toda a gente lá cabia.
Mudam-se os tempos... e agora não há época pré-eleitoral que não me dê vontade de fugir, tirar férias, hibernar - é triste viver num tempo em que tudo se dispersa de tal forma que já nada se discute em termos, em que se considera legítimo impingir ideias como quem vende detergentes, em que, mais do que o seu conteúdo, se valorizam as formas como se apresentam os argumentos. Tanto barulho, minha gente, e se espremido sai tão pouco...
Não haverá maneira de dispensar todo este festival?
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2 comentários:
Claro que haveria outra maneira, mas menos democrática, que é a do "quero, posso e mando". Não há lugar a consultas populares e as leis aparecem feitas (ou não).
É pena que, ano após ano, eleição após eleição, os actos de esclarecimento/propaganda através dos media ou na rua, não tenham o mesmo efeito de há 30 anos.
Abraço.
Caro lrc,
Não me referia às consultas populares, mas ao tipo de campanha eleitoral a que, por norma, somos obrigados a assistir - muito circo, muita poluição visual, muita poluição sonora (pelo menos desta vez o financiamento não sai do bolso do contribuinte).
Coisas que, paradoxalmente (ou talvez não...), distraem as atenções daquilo que realmente é pertinente.
A título de exemplo, a intervenção de M. José Morgado na Assembleia da República é uma forma de trazer a público questões muito pertinentes, e envolvendo verbas infinitamente maiores, mas quer apostar que vai continuar tudo mais interessado na novela dos financiamentos das campanhas? (que é uma questão para analisar, sim senhor, mas teremos que esperar pela altura de se apresentarem as contas).
Porque é que as coisas não têm o efeito de há 30 anos?
Porque nessa altura era preciso um povo bastante ignorante e inculto aprender os rudimentos do funcionamento de uma democracia, e isso acabou por ser um grande esforço colectivo, dos que foram ensinando e dos que foram aprendendo.
Actualmente, estamos perante máquinas partidárias poderosas, que convergem esforços no sentido de nos atirarem areia para os olhos enquanto vão perpetuando os seus mecanismos de divisões periódicas do(s) poder(es) - os nossos níveis de corrupção são disso prova evidente.
(Quando falo em vender detergente não é uma metáfora, é a pura realidade das coisas - campanhas eleitorais ou de publicidade são pensadas exactamente da mesma forma, pela mesma gente, visam ter o mesmo efeito... até são pagas pela mesma gente!)
O problema é que o esforço de há 30 anos ficou a meio e este povo ainda não percebeu que não vai a votos para escolher um bando de senhores que mande nele, mas um grupo de cidadãos que o represente!
Um abraço.
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