a
«O que é que seria preciso para me sentir mais português? Maior identificação com os meus conterrâneos. Que eles fossem mais cultos, menos complacentes, mais pontuais. Gostava que tivessem educação artística (é o país com menos educação artística da Europa).
É preciso dizer que os portugueses têm tantos defeitos como qualidades O nosso país não é melhor que os outros, é igual. À partida, não é mais bonito que os outros, é igual. Mas está hoje mais feio do que a maior parte dos outros porque os portugueses o fizeram feio. E eu não perdoo isso aos meus conterrâneos: o que eles fizeram das subúrbias das cidades; o que eles fizeram da costa; o que eles fizeram de algumas montanhas; o que eles fizeram do Alto Minho; o que estão a preparar-se para fazer no Douro, o que estão a preparar-se para fazer na Costa Vicentina, em grande parte do Algarve; o que fizeram nalgumas destas zonas que não são água nem terra nem fogo nem ar, entre Lisboa e a Ericeira e Mafra e Torres Novas, ou entre o Porto e Barcelos e Santo Tirso e Gaia. Você passa por aqueles sítios e vê restos de obras, restos de tijolo no chão. Não me diga que estas pessoas gostam do país que têm. Ninguém trata assim uma coisa de que gosta.
Eu gostava da ideia que eu podia fazer de Portugal de um país muito bonito, de um país com algumas montanhas, de um país que consegue ter ao mesmo tempo o Mediterrâneo e o Atlântico, que consegue ter a planície e a montanha, que tem a costa, o litoral e o mar, e que tem os rios e que tem uma luz nalguns sítios e que desperdiça tudo, e que estraga e que estraga, que destrói, que destrói, que constrói cimenteiras na Arrábida. Só um povo louco, só um dirigente louco é que fazem coisas dessas. Agora está um pouco melhor, mas há uns 15 anos havia 600 lixeiras no país e as pessoas viviam ao lado delas. Havia uma famosa entre a Régua e Mesão Frio, até o Manoel Oliveira a filmou no Vale Abraão. Uma coisa hedionda, esteve ali 30 anos, sem que um presidente da câmara, um governo, um ministro, um director-geral acudissem àquilo. Os portugueses não gostam de Portugal. Os portugueses gostam deles.
Não gostam do país que têm. Destroem-no de tal maneira que não podem gostar de Portugal. E eu não gosto das pessoas que não gostam do país que têm.»
António Barreto, em entrevista a Adelino Gomes, hoje, no «Público» [sem link]
a
«O que é que seria preciso para me sentir mais português? Maior identificação com os meus conterrâneos. Que eles fossem mais cultos, menos complacentes, mais pontuais. Gostava que tivessem educação artística (é o país com menos educação artística da Europa).
É preciso dizer que os portugueses têm tantos defeitos como qualidades O nosso país não é melhor que os outros, é igual. À partida, não é mais bonito que os outros, é igual. Mas está hoje mais feio do que a maior parte dos outros porque os portugueses o fizeram feio. E eu não perdoo isso aos meus conterrâneos: o que eles fizeram das subúrbias das cidades; o que eles fizeram da costa; o que eles fizeram de algumas montanhas; o que eles fizeram do Alto Minho; o que estão a preparar-se para fazer no Douro, o que estão a preparar-se para fazer na Costa Vicentina, em grande parte do Algarve; o que fizeram nalgumas destas zonas que não são água nem terra nem fogo nem ar, entre Lisboa e a Ericeira e Mafra e Torres Novas, ou entre o Porto e Barcelos e Santo Tirso e Gaia. Você passa por aqueles sítios e vê restos de obras, restos de tijolo no chão. Não me diga que estas pessoas gostam do país que têm. Ninguém trata assim uma coisa de que gosta.
Eu gostava da ideia que eu podia fazer de Portugal de um país muito bonito, de um país com algumas montanhas, de um país que consegue ter ao mesmo tempo o Mediterrâneo e o Atlântico, que consegue ter a planície e a montanha, que tem a costa, o litoral e o mar, e que tem os rios e que tem uma luz nalguns sítios e que desperdiça tudo, e que estraga e que estraga, que destrói, que destrói, que constrói cimenteiras na Arrábida. Só um povo louco, só um dirigente louco é que fazem coisas dessas. Agora está um pouco melhor, mas há uns 15 anos havia 600 lixeiras no país e as pessoas viviam ao lado delas. Havia uma famosa entre a Régua e Mesão Frio, até o Manoel Oliveira a filmou no Vale Abraão. Uma coisa hedionda, esteve ali 30 anos, sem que um presidente da câmara, um governo, um ministro, um director-geral acudissem àquilo. Os portugueses não gostam de Portugal. Os portugueses gostam deles.
Não gostam do país que têm. Destroem-no de tal maneira que não podem gostar de Portugal. E eu não gosto das pessoas que não gostam do país que têm.»
António Barreto, em entrevista a Adelino Gomes, hoje, no «Público» [sem link]
a
Sem comentários:
Enviar um comentário