3.10.07

da BBCNews às nossas incongruências

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Incontornável, por estes dias, é a cobertura dos acontecimentos na Birmânia pela BBCNews que, detendo um seviço em língua birmanesa, tem igualmente redes organizadas no terreno.
É bom não perdermos a noção de que alguém arrisca a vida por cada uma destas informações que nos chegam diariamente.

Rangum tolhe-se de medo. As ruas são percorridas por carros militares com altifalantes: «Temos as fotografias. Vamos deter pessoas», vão anunciando. Antecipando-se às rusgas que se sucedem pelos mosteiros durante a noite, muitos monges abandonam a cidade. Pelo menos 4000 já foram presos.

É também bom lembrar a nossa circunstância, perfeitamente ilustrada num episódio a que assisti na SIC Notícias, nas horas que se seguiram aos atentados de 11 de Setembro, que surpreenderam o presidente da AMI em Nova Iorque.
Lembro-me de, num directo telefónico, Fernando Nobre descrever longamente a devastação assoladora da paisagem, e deste lado o pivot insistir em orientar a tónica para o avassalador número de mortos sem conseguir obter resposta. Por fim, tanto insistiu que ela veio: «Sabe, isso dos números é muito relativo. No último campo de refugiados em que estive morriam mais de duas mil pessoas todos os dias. Estas já não me impressionam assim tanto...»

Ou seja, é bom ter presente que, queiramos ou não, a informação é sempre uma questão de foco, do lugar para onde as luzes apontam. E ainda há sombra em muito lado.

Seria bom também ter presente que, com toda a probabilidade, passados estes (e outros) momentos em que exigimos pressão sobre a China, estaremos todos na devida altura pespegados aos televisores a vibrar com os atletas, a ver cair records, a alimentar os sponsors. Eu também, provavelmente.
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