23.12.07

d. alice

a
«Se trago as mãos distantes do peito
É que há distância entre intenção e gesto
De tal maneira que depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto»

Chico Buarque, «Fado Tropical»


Gostava de ter palavras, mas são poucas.
Talvez seja comum esta dificuldade em nomear a essência desprovida de acessórios, a raiz. Certo é que toda a gente à sua volta aprendeu a ser tolerante, a ter respeito pelos outros, a ver todos os homens como iguais. Mas sobretudo a ser leal. E a querer sempre chegar mais longe.

Com o tempo, acabei por chamar-lhe 'bom senso'. E é o que é.
O que não consigo é definir a onda, o feeling, a aura, o que quer que lhe chamem, que ainda hoje, quando já nem as mãos mexe e emite pouco mais do que um murmúrio, aquela senhora emana. «Esta senhora é um doce!», dizia-me há tempos um médico na Urgência do S. João.

A vida tem destas coisas: com o andar dos tempos, a dispersão geográfica e as restruturações familiares, acabamos por transpor para o seu aniversário o que quase toda a gente celebra amanhã. Mais logo, à volta da mesa, trocaremos entre nós as pequenas oferendas que destinamos àqueles com quem desde sempre traçamos um caminho que é comum. O que não deixa de ser uma merecida homenagem à minha incomparável avó.
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