26.4.08

goodfellas

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«É, meu irmão, eu juro, eram nove e meia e estava inocente para a vida, foi a chavala, tás a ver, a catraia acordou-me «Pai, quero ir ao parque», tás a ver, juro que estava inocente para a vida, e não é que estamos no parque e encontro um gajo, vem o man, meu, e diz «vai ao quarto-de-banho que estão lá uns comunicados*» e tal, tás a ver, foda-se, às onze já estava cego, tou-te a dizer, meu irmão, não via nada, tive que apanhar uma tarifa** do parque ao Bairro dos Pescadores***».

*comunicados (panfletos, pacotes): embalagens de cocaína, neste caso
** tarifa: táxi
***distância: cerca de 500 metros

Estávamos três à mesa em amena cavaqueira. Chega um catraio, senta-se, manda servir uma rodada. Repete a história três ou quatro vezes, sem pausas, a cem à hora. Acaba a cerveja e vai embora. Atrás de negócios e de mais comunicados, possivelmente. Uma vez perdida a inocência...

Há muitos anos que não embalava numa noite de copos pelo underground matosinhense, mas às vezes calha. Lamento não ser possível sacar de bloco de apontamentos, de máquina de filmar, de qualquer coisa... digamos que esta foi só uma das inúmeras cenas de filme a que assisti em algumas horas.
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