24.4.08

um pequeno prec introdutório

a
Ainda não era a revolução, mas lá por casa vivia-se uma espécie de PREC. Começara uma semana antes: um grande reboliço, muitas conversas só de adultos, os primos de Lisboa que de repente vieram para o Porto, o resto da família em constantes visitas à capital.

Versão oficial: o tio, irmão do meu pai, adoecera de repente e estava hospitalizado.
Ainda me lembro bem das laboriosas cartas a desejar as melhoras que lhe escrevi nessa altura.

A minha mãe, uma noite, decidiu contar-me a verdade. Estava eu demasiado preocupada com a 'doença', imagino.
Ainda hoje revejo a cena: nós as duas dentro do Mini branco estacionado à porta do Macedo Varela, a casa de quem o meu pai fora em diligência rápida que se estava a prolongar. «Sabes, o teu tio não está doente. Está preso pela PIDE». Lembro-me que desatei num pranto. Que a dada altura veio o meu pai, chamar-nos para entrar. E que pedi para contarem que tinha acabado de me magoar quando perguntassem do meu ar de choro, o «não foi nada» do costume.


Quanto ao ambiente PREC, eis o quadro: o meu avô era um homem do regime, fora mesmo deputado à Assembleia Nacional uns anos antes. Às primeiras notícias, pegou no telefone e ligou directamente a um qualquer membro do Governo. E ficou a saber que não era engano, o filho era mesmo militante do PC...

PS - As ditas laboriosas cartas, contaram-me depois que seguiram todas. Questão de encher de palha quem tivesse a função de ler previamente a correspondência. E de distrair o preso, obviamente.
a

Sem comentários: