1.8.08

até nem era milagre...

a

Quem por lá passou não pode deixar de entristecer com a notícia, quase tanto como quando vimos cerradas as portas do velho edifício de Santa Catarina, as tais que há 120 anos não fechavam. O facto é que «O Primeiro de Janeiro» não estará nas bancas amanhã.

Em 1992, tinha de lá saído há alguns meses, pediram-me um depoimento para o suplemento de aniversário do jornal, então em nova fase de 'renascimento'. Fica aqui um excerto que demonstra bem como certas doenças podem ser prolongadas. Muitas vezes artificialmente.

«Era mais ou menos um milagre, mas só mais tarde me apercebi disso.

A questão não era sequer ter o «Janeiro» nas bancas todos os dias - o que, tempos houve, não deixava só por si de ser tarefa difícil - mas, numa altura em que o património físico e moral fora já delapidado, a capacidade de se continuar a fazer um jornal que, reconheça-se, volta e meia tinha interesse.

A questão era o esforço de mais ou menos toda a gente que, mesmo quando pela enésima vez via repetir-se a novela das restruturações ou a dos salários em atraso, demorava sempre muito tempo a perder o alento.

Se calhar, o tal milagre até nem era tão milagre, apenas consequência de, entre os que de facto trabalhavam, haver então apenas os de há muitos anos, que lembravam ainda os tempos de se esgotarem edições seguidas e a cada passo recordavam, nostálgicos, a família Pinto de Azevedo, e mais os de há muito pouco tempo, a ver se encontravam um lugar ao sol.

Não que não andassem por lá os outros, os do meio. Foram-se abstendo.»
a

Sem comentários: