23.10.06

um país de doutores





Têm entre 7 e 8 anos e 25 horas semanais de carga horária curricular. Mais cerca de meia hora diária de TPC. O que dá à volta de 27 horas por semana, ou seja, menos 8 do que as horas de trabalho que um funcionário público, adulto, tem que cumprir.


Se frequentarem as tão faladas actividades extracurriculares nas escolas públicas de Matosinhos, são brindados não com uma, nem com duas, mas com TRÊS horas semanais de Inglês (já lá vão 30!), mais a Música, a Educação Física (que até agora era parte do horário lectivo normal), o Estudo Acompanhado... (Isto, numa escola com espaço exíguo, e que por isso só oferece horário extra três dias por semana aos mais velhos, dois dias aos mais novos. Não fosse esse pormenor, levavam todos com uma carga horária de 40 horas semanais...)


Ignoro o que passa pela cabeça de quem decide estas coisas. Nas reuniões, bridam-nos com discursos bem intencionados, com o dinheiro que se gasta em ATL, com o nobre propósito de facilitar a vida aos pais... mas não se fala no bem-estar dos meninos, que é suposto terem vida para além da escola, que é suposto terem um futuro mais largo do que batalhar pelas médias que um dia poderão dar acesso ao Ensino Superior.


Se calhar até dá jeito crescerem assim: quase duas décadas de ininterrupto marranço, de premente necessidade de ficar entre os melhores, não deixam muito espaço a que se pense nos outros lados da vida, a que se tentem caminhos divergentes, a que se experimentem aventuras pelo mundo.


Se o que se vê, muitas vezes, quando se olha à volta é uma mole de jovens (e menos jovens) adultos alheados da realidade do(s) mundo(s), sem noções complexas de comunidade, isentos de capacidade crítica, a viver fora de tempo a adolescência que acabaram por nunca poder ter, por que carga de água se insiste na fórmula? Será que a ideia é levá-los também rumo a uma infância tardia, passando então a adolescência mental a ser vivida lá mais para a meia-idade?


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