12.1.08

pensar o espaço urbano

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Desde a noite dos tempos, a arquitectura foi sempre feita para durar. A preocupação com a orientação dos edifícios, com a eficácia dos formas está presente nos trabalhos de arquitectos romanos ou renascentistas - Vitrúvio, Alberti, Palladio. Foi preciso esperar pelo século XX para assistirmos a uma arquitectura de costas voltadas para o meio envolvente! Agora procuramos repor o valor do equilíbrio térmico dos edifícios, utilizar o mínimo de energia possível. Mas, no fundo, o que devia mudar é mais a ética, não a técnica. De que serve limitar os consumos de energia das habitações se os seus moradores vão para o trabalho de automóvel? A construção e o urbanismo estão ligados. É preciso evitar a dispersão de edifícios por territórios muito vastos. Dito isto, não me parece que estas sejam questões que apaixonem o mundo da arquitectura, mesmo sendo essenciais.

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A arquitectura actual tem problemas em exprimir algo além de si própria, em manifestar o interesse colectivo. Fecha-se sobre si própria porque muitos profissionais têm a impressão de que os fenómenos urbanos lhes escapam. Interessamo-nos só pelos objectos arquitectónicos, não pelo espaço que os interliga. Ora, o vazio integra a arquitectura tanto quanto o edificado.

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O urbanismo deve encontrar as formas de exprimir o interesse colectivo e deter-se na prioridade de definir o espaço público. Seja qual for o projecto, no mínimo é necessário que o espaço público seja honrado. Defendo um urbanismo oportunista. Trabalho em função do projecto, do espaço envolvente, com os meios disponíveis. O urbanismo deve conjugar todos estes elementos, mesmo os mais banais. Deve criar as condições necessárias a que uma cidade funcione mesmo com os seus elementos médios, vulgares e falhados. O mundo não é harmonioso. A cidade ideal não existe.

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Yves Lion, arquitecto, professor, fundador em 1997 da Escola de Arquitectura da Cidade e dos Territórios de Marne-la-Vallée, em entrevista ao Le Monde.
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