a
«Trata-se de uma biografia, de uma longa reportagem, de um romance real ou de uma obra de carácter histórico? Talvez um casamento entre todos estes géneros. De entre os múltiplos obstáculos que encontrei pelo caminho, um dos maiores foi sem dúvida o próprio nome do comandante Castro. 'Fidel' é, com efeito, uma palavra armadilhada, que evoca uma proximidade e um parentesco pouco propícios à visão distante e neutra. Mesmo os mais virulentos entre os exilados de Miami, os que gostariam de o ver na cadeira eléctrica, o tratam por Fidel como se falassem de um primo. Ora, Fidel Castro não tem espírito de família. E também não é um homem muito fiel. O único domínio em que nunca falhou, nunca cedeu e nunca mentiu é o da defesa encarniçada da sua própria glória.»
Um título genial. Uma abordagem interessante. Um preço mais que de saldo (5€). Um livro curiosíssimo.
O francês Serge Raffy - jornalista, escritor e argumentista - fez uma investigação minuciosa, mas não se deteve nos factos: recolheu também impressões, juízos mais ou menos especulativos, conclusões mais ou menos controversas. E não se coíbe de acrescentar os seus raciocínios, nem de imaginar ou recriar algumas cenas.
Mas fá-lo com uma escrita transparente e não há momento em que se não distinga, com toda a facilidade, entre aquilo que se sabe que se passou e aquilo que se pensa poder ter-se passado.
À parte o retrato do ditador, à parte as tricas políticas, à parte a viagem pelos ambientes de um século de história cubana, «Castro, l'infidèle» retrata mais de 50 anos de eficacíssima manipulação da opinião pública à escala do globo - área em que o comandante é de facto um verdadeiro génio.
Por outro lado, responde a uma interrogação que anda no ar desde há uns tempos. Não, Raúl não é reformista. Será mesmo mais duro que o irmão, de quem sempre foi braço direito.
O livro foi publicado em 2003, era Fidel já um homem a debater-se com os problemas da velhice e das doenças, vivendo mais ou menos em retiro na companhia da mulher que durante muitos anos manteve secreta. Não perdeu em actualidade: à história pouco mais faltará acrescentar além da data da sua morte.
a
«Trata-se de uma biografia, de uma longa reportagem, de um romance real ou de uma obra de carácter histórico? Talvez um casamento entre todos estes géneros. De entre os múltiplos obstáculos que encontrei pelo caminho, um dos maiores foi sem dúvida o próprio nome do comandante Castro. 'Fidel' é, com efeito, uma palavra armadilhada, que evoca uma proximidade e um parentesco pouco propícios à visão distante e neutra. Mesmo os mais virulentos entre os exilados de Miami, os que gostariam de o ver na cadeira eléctrica, o tratam por Fidel como se falassem de um primo. Ora, Fidel Castro não tem espírito de família. E também não é um homem muito fiel. O único domínio em que nunca falhou, nunca cedeu e nunca mentiu é o da defesa encarniçada da sua própria glória.»
Serge Raffy, «Castro, l'infidèle», introdução
Um título genial. Uma abordagem interessante. Um preço mais que de saldo (5€). Um livro curiosíssimo.
O francês Serge Raffy - jornalista, escritor e argumentista - fez uma investigação minuciosa, mas não se deteve nos factos: recolheu também impressões, juízos mais ou menos especulativos, conclusões mais ou menos controversas. E não se coíbe de acrescentar os seus raciocínios, nem de imaginar ou recriar algumas cenas.
Mas fá-lo com uma escrita transparente e não há momento em que se não distinga, com toda a facilidade, entre aquilo que se sabe que se passou e aquilo que se pensa poder ter-se passado.
À parte o retrato do ditador, à parte as tricas políticas, à parte a viagem pelos ambientes de um século de história cubana, «Castro, l'infidèle» retrata mais de 50 anos de eficacíssima manipulação da opinião pública à escala do globo - área em que o comandante é de facto um verdadeiro génio.
Por outro lado, responde a uma interrogação que anda no ar desde há uns tempos. Não, Raúl não é reformista. Será mesmo mais duro que o irmão, de quem sempre foi braço direito.
O livro foi publicado em 2003, era Fidel já um homem a debater-se com os problemas da velhice e das doenças, vivendo mais ou menos em retiro na companhia da mulher que durante muitos anos manteve secreta. Não perdeu em actualidade: à história pouco mais faltará acrescentar além da data da sua morte.
a
Sem comentários:
Enviar um comentário