23.2.08

one from the heart

a
«Tudo é de novo belo, a noite serenou, podes voltar. Este filme apagará o tempo que melodias mesquinhas mastigaram todo o dia; queima o quotidiano ramerrão, a irritante porção de degraus que há a subir sempre que a casa se torna; electriza o interruptor da luz, totalmente pespegado sempre no mesmo lugar, sem que aventura o mova. Este filme é a noite em que as fadas e os sheiks se postaram sedutores no limiar da porta, e com dedos curvos e macios acenavam, dizendo 'vem daí'
Então as estrelas rebolaram em cascata, por outra nova vez alumiado. Os homens da luz néon trabalharam todo o dia para enfeitar a festa com azuis constelações, ou rosa, ou verdes. O próprio chão, que era de vidro branco, ardia no fervor dos nossos pés dançantes. O coração, senhores!, empoleirado na garganta espiava aquele barulho onírico de encontros milagrosos e de promessas sinceramente eternas - com o terno e pueril prazo de valia duma única noite enxaguada pela brisa do alvor.»

Jorge Colombo


Francis Ford Coppola há-de ter metido pelo menos dois ácidos na vida. Do primeiro, saiu «Apocalypse Now», do segundo «One From The Heart».

O texto do Jorge Colombo foi publicado no «Expresso», por alturas da estreia nacional do filme (1983?).

A música é de Tom Waits.









a

Sem comentários: