3.2.08

regicídio

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Quando eu era criança, vivia-se num mundo de metáforas. Impedidas de se exprimir livre e directamente, as pessoas usavam um sem-número de símbolos para o fazer por vias travessas. Um deles era o 5 de Outubro, a Implantação da República enquanto vitória do povo sobre o opressor, e participar em acções públicas comemorativas era um acto de resistência.

Os episódios dos últimos dias têm o dom de demonstrar o quanto muitos daqueles que nos representam continuam presos a realidades formais que já não existem.

Acho natural que isso possa acontecer na geração dos que por lá passaram, para alguns é estrutural. Entre os que vieram depois, no entanto, faz-me confusão não perceberem que o andar da história também se faz com mitos, e são necessários, mas que só se cresce verdadeiramente quando se chega ao tempo em que acabam por cair.

Querer fechar os olhos à realidade histórica e à complexidade das coisas só contribui para perpetuar gerações acéfalas, constituídas por camadas desprovidas de juízo crítico em relação às suas próprias acções, enquanto parte de um colectivo e enquanto indivíduos.
Bem vistas as coisas, não se distancia muito do mundo dividido em bons e maus, à velha maneira do raciocínio simplista tão caro ao presidente norte-americano.
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