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Luís Fernandes em entrevista ao «Público»/Rádio Nova, ou mais um retrato da vida de certos bairros portuenses:
«O mercado das drogas não se fixa de modo aleatório, fixa-se por razões estruturais que se prendem com a tal crise da sociedade pós-industrial. Recruta mão-de-obra nos sítios onde a empregabilidade está em crise profunda, onde se esbateu o vínculo entre a escola e o trabalho. Para muitos dos nossos jovens, sobretudo os das camadas mais desfavorecidas, a escola é um destino que abre para parte nenhuma. Os bairros sociais tinham, já nessa época, uma certa fractura em relação à cidade, que nunca foi resolvida: continuam a ser sítios de margem, a manter um certo aspecto de fortificações onde é mais fácil desenvolver actividades perseguidas criminalmente. Nada de especial: as pessoas lançam mão das economias de interstício [como o tráfico de droga ou a venda de contrafacção] de que precisam para sobreviver.
(...)
«As drogas são um mercado com diferentes patamares, diferentes interesses e múltiplos agentes. Diria até que são o contrário do crime organizado, são o crime desorganizado. Ele vai para tantos lados, tem tantos agentes que não se conhecem uns aos outros que não podemos ter um modelo de pirâmide. Funciona muito mais em raiz, horizontalmente.
(...)
«Os bairros sociais não são independentes entre si. Fruto até de políticas sociais. Um indivíduo pode viver no bairro A, a família cresce, o filho casa-se e tem direito a habitação social no bairro B. Há relações de família, de vizinhança. Isto também funciona para os mercados, sejam de T-shirts na feira de Espinho, sejam de venda de produtos ilícitos. E felizmente que é assim. Quando o Estado-providência não funciona, há uma sociedade-providência. Vejamos a situação seguinte: pai e mãe a trabalhar na mesma fábrica, a fábrica é deslocalizada; de repente, ficam os dois desempregados, há cinco filhos menores. Se calhar, há um vizinho que os conhece há muitos anos e que até obtém os seus proventos da venda de drogas e que consegue suportá-los economicamente durante um tempo. Aqui o dinheiro da droga está a cumprir um papel que o Estado-providência devia cumprir e não cumpre.»
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Luís Fernandes em entrevista ao «Público»/Rádio Nova, ou mais um retrato da vida de certos bairros portuenses:
«O mercado das drogas não se fixa de modo aleatório, fixa-se por razões estruturais que se prendem com a tal crise da sociedade pós-industrial. Recruta mão-de-obra nos sítios onde a empregabilidade está em crise profunda, onde se esbateu o vínculo entre a escola e o trabalho. Para muitos dos nossos jovens, sobretudo os das camadas mais desfavorecidas, a escola é um destino que abre para parte nenhuma. Os bairros sociais tinham, já nessa época, uma certa fractura em relação à cidade, que nunca foi resolvida: continuam a ser sítios de margem, a manter um certo aspecto de fortificações onde é mais fácil desenvolver actividades perseguidas criminalmente. Nada de especial: as pessoas lançam mão das economias de interstício [como o tráfico de droga ou a venda de contrafacção] de que precisam para sobreviver.
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«As drogas são um mercado com diferentes patamares, diferentes interesses e múltiplos agentes. Diria até que são o contrário do crime organizado, são o crime desorganizado. Ele vai para tantos lados, tem tantos agentes que não se conhecem uns aos outros que não podemos ter um modelo de pirâmide. Funciona muito mais em raiz, horizontalmente.
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«Os bairros sociais não são independentes entre si. Fruto até de políticas sociais. Um indivíduo pode viver no bairro A, a família cresce, o filho casa-se e tem direito a habitação social no bairro B. Há relações de família, de vizinhança. Isto também funciona para os mercados, sejam de T-shirts na feira de Espinho, sejam de venda de produtos ilícitos. E felizmente que é assim. Quando o Estado-providência não funciona, há uma sociedade-providência. Vejamos a situação seguinte: pai e mãe a trabalhar na mesma fábrica, a fábrica é deslocalizada; de repente, ficam os dois desempregados, há cinco filhos menores. Se calhar, há um vizinho que os conhece há muitos anos e que até obtém os seus proventos da venda de drogas e que consegue suportá-los economicamente durante um tempo. Aqui o dinheiro da droga está a cumprir um papel que o Estado-providência devia cumprir e não cumpre.»
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