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26.8.08

c'est la rentrée

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«Les champions olympiques rentrent au bercail après la distribution des prix. Ce sont maintenant quelques dizaines d'écrivains, sur les starting-blocks, qui visent l'or, l'argent ou le bronze.

Rentrée littéraire, rentrée politique, rentrée scolaire, rentrée dans le rang... Tout rentre dans l'ordre. Fini, les rêves et les fantaisies. On rentre sa chemise dans le pantalon. Les affaires reprennent, les rengaines aussi. C'est le retour des bronzés, qui vont nous raconter leurs vacances. C'est le temps des bonnes résolutions et des mauvaises nouvelles. Les prix montent, la croissance décroît, le climat est lourd, et le moral dans les chaussettes.

Je rentre, tu rentres, nous rentrons... Ils ou elles ne rentrent pas forcément. Rentrer, c'est entrer de nouveau. Tout le monde n'y a pas droit : pour franchir la porte, il faut un passe, un statut, une activité reconnue. Entrée interdite pour les uns, qui n'ont que faire de nos rituels, rentrée obligatoire pour les autres, à qui le calendrier est imposé.
Rentrons. Il fait froid dehors. Mais, dedans, on étouffe. Où est la sortie ?»

Robert Solé
[Le Monde]

15.7.08

o ódio*

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«Há um tipo que cai de um prédio de 50 andares. À medida que desce, para se tranquilizar, vai repetindo «até agora, tudo bem... até agora, tudo bem». Mas o que conta não é a queda: é a aterragem.»





*post a propósito da Quinta da Fonte
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26.6.08

the net

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Campanha para a prevenção do HIV em Moçambique:




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25.6.08

o assalto

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Onde pára a polícia? Não pára!


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23.5.08

bairro negro

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Nas proximidades, resta um bairro de lata - já foram quase uma dezena. O que vou dizer não é simpático, mas é verdade: a maioria dos habitantes distingue-se pelo cheiro. Não há nem condições mínimas de salubridade, nem noções básicas de higiene. As crianças são enfezadas e têm os dentes podres. Os adultos não têm dentes.

A última tendência? Pintar madeixas loiras nos cabelos... das crianças. Meninas pequenas precocemente travestidas, quase sempre com futuro incerto pelo longo passeio da avenida. Morrem cedo, todas elas.

Imagine-se uma realidade em que cerca de 80% dos pais e mães das crianças do 1º ciclo são alcoólicos. É mais ou menos o que se passa aqui. E já foi pior: há uns anos alargava-se a muito mais gente.
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13.5.08

drogas e adolescentes

a
- Porque é que as pessoas se drogam?
- Porque é bom.

A pergunta era da Judite de Sousa. A resposta, do João Goulão. Ninguém pode dizer que seja mentira. Aliás, se não fosse bom nem seria um problema.

Andamos nós uma vida a ensinar às criancinhas que a droga é merda, e vai daí elas crescem, e há um dia em que até experimentam e a coisa não se revela assim tão má... Eis o momento em que tudo o que alguma vez dissemos perde a credibilidade: fica demonstrado que pura e simplesmente não conhecemos aquilo de que estamos a falar (ou então que mentimos, o que é pior). Relativizar não rima com ser adolescente. Ouvir 'cotas' ignorantes também não.

Está meio mundo indignado com o IDT por expor a realidade como é, e não como gostávamos que fosse. Mas é essa a que os nossos filhos enfrentam.



Acrescento às 13h50:

«No futuro, as drogas serão uma escolha de cada um», entrevista de Goulão ao DN, há uns meses. O homem pode ser controverso, mas sabe do que fala. E não se trata sequer de estar ou não de acordo, apenas de ter esta perspectiva em conta. Porque vai ser mesmo assim, provavelmente.
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2.5.08

essa é que é essa...

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«68 acabou: ganhámos!»
Daniel Cohn-Bendit

Em BD:

Mai 68, histoire d'un printemps
Arnaud Bureau e Alexandre Franc
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14.4.08

o crime desorganizado

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Luís Fernandes em entrevista ao «Público»/Rádio Nova, ou mais um retrato da vida de certos bairros portuenses:

«O mercado das drogas não se fixa de modo aleatório, fixa-se por razões estruturais que se prendem com a tal crise da sociedade pós-industrial. Recruta mão-de-obra nos sítios onde a empregabilidade está em crise profunda, onde se esbateu o vínculo entre a escola e o trabalho. Para muitos dos nossos jovens, sobretudo os das camadas mais desfavorecidas, a escola é um destino que abre para parte nenhuma. Os bairros sociais tinham, já nessa época, uma certa fractura em relação à cidade, que nunca foi resolvida: continuam a ser sítios de margem, a manter um certo aspecto de fortificações onde é mais fácil desenvolver actividades perseguidas criminalmente. Nada de especial: as pessoas lançam mão das economias de interstício [como o tráfico de droga ou a venda de contrafacção] de que precisam para sobreviver.

(...)

«As drogas são um mercado com diferentes patamares, diferentes interesses e múltiplos agentes. Diria até que são o contrário do crime organizado, são o crime desorganizado. Ele vai para tantos lados, tem tantos agentes que não se conhecem uns aos outros que não podemos ter um modelo de pirâmide. Funciona muito mais em raiz, horizontalmente.

(...)

«Os bairros sociais não são independentes entre si. Fruto até de políticas sociais. Um indivíduo pode viver no bairro A, a família cresce, o filho casa-se e tem direito a habitação social no bairro B. Há relações de família, de vizinhança. Isto também funciona para os mercados, sejam de T-shirts na feira de Espinho, sejam de venda de produtos ilícitos. E felizmente que é assim. Quando o Estado-providência não funciona, há uma sociedade-providência. Vejamos a situação seguinte: pai e mãe a trabalhar na mesma fábrica, a fábrica é deslocalizada; de repente, ficam os dois desempregados, há cinco filhos menores. Se calhar, há um vizinho que os conhece há muitos anos e que até obtém os seus proventos da venda de drogas e que consegue suportá-los economicamente durante um tempo. Aqui o dinheiro da droga está a cumprir um papel que o Estado-providência devia cumprir e não cumpre.»
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29.3.08

então e as turmas?

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(nota: este post foi publicado por engano ainda em estado de rascunho e devidamente acrescentado algumas horas depois)

Há uns tempos, andava no ar uma certa revolta por as escolas terem sido referenciadas por seleccionar os alunos ao constituir as turmas. Lá foi outra vez a ministra acusada de andar a querer denegrir a imagem da classe docente, mas por ora ninguém se lembra do caso.

O facto é que, com toda a naturalidade, a Escola Carolina Michaelis reconhece ter agrupado um conjunto de alunos com percursos disciplinares prévios complicados noutros estabelecimentos.
E parece que não há quem estranhe que assim aconteça, é mesmo normalidade vigente haver nas escolas grupos de adolescentes estruturados com mais condições de se organizarem como bandos do que como turmas.

Agrada a todos, a começar nos pais dos outros: ninguém quer ver os seus filhos em grande convívio com os gandins. Estes, que normalmente já em família foram privados da aprendizagem das regras básicas de socialização, ficam igualmente impedidos de as aprender entre pares, pelo menos minimamente.

Por outro lado, se há coisa necessária é saber lidar com esta gente - vamos levar com eles vida fora, no quotidiano, nos empregos, nos transportes (até mesmo na família, tantas vezes...) Não vejo por que há-de ser uma tragédia aprender na escola a lidar com realidades transversais a toda a comunidade.

Ontem tive uma amostra do que deverá ser a reacção da maioria das famílias de crianças prestes a transitar para o 2º ciclo: é o pânico total, encha-se a escola de polícias!


PS - Li hoje a notícia de que está por regulamentar o acesso ao Ensino Básico antes da idade normal de crianças precoces ou sobredotadas. A prolongar-se a situação, este ano lectivo ficam de fora. Confesso que me custa a crer que tal aconteça, mas se se vier a passar, processe-se o Estado: estará a lesar gratuita e irremediavelmente os direitos básicos desses cidadãos.
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25.3.08

Tibet, Tibet!

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«Oui, il faut défendre le Tibet. Oui, la Chine est la plus vaste prison du monde. Oui, les droits de l'homme sont plus sacrés que la flamme olympique... Tout cela est juste et bon. Mais d'où vient le malaise que l'on éprouve depuis quelques jours? Serait-il dû aux philippiques enflammées, sur toutes les radios, d'un reporter sans frontières qui donne l'impression désagréable de s'approprier ce combat? Ou simplement à notre mauvaise conscience?

Nous découvrons le Tibet, avec la même fraîcheur que nous avions mise à découvrir la Tchétchénie, la Birmanie... Tiens, à propos, que se passe-t-il en Birmanie? C'était quoi, déjà, le débat? Il y a peu de temps encore nous étions tous sur le pied de guerre, suffoquant de colère, prêts à mourir pour Rangoun. Mais d'autres causes nous appelaient irrésistiblement.

Nos prises de conscience subites n'ont d'égales que nos indignations provisoires. Bien sûr, on ne peut pas être au four et au moulin. Il faudrait sans doute fixer un calendrier. Tchétchénie en janvier, Darfour en février, Tibet en mars... Plus que cinq jours pour crier "Tibet, Tibet!", avant de passer à autre chose.»

Robert Solé, [Le Monde]
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21.3.08


Sous les pavés, 2008
LEMONDE.FR | 21.03.08
© Le Monde.fr

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28.1.08

a revolução 'desumana'

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«(...) Temos uma dificuldade crescente em distinguir a informação da sua síntese ou, dito de outra forma, do conhecimento. Porquê? Porque a cultura gerada pelas máquinas nos ultrapassa. Usando uma metáfora marítima: a quantidade de informação apresentada na net é um oceano, mas nós desconhecemos a arte de marear. Cada vez mais, parece que permanecer à superfície deste oceano - «navegar» - se tornou uma questão de sobrevivência. Só que os humanos ainda o fazem à moda antiga, ainda vemos o conhecimento aliado ao conceito de profundidade. A superfície e o fundo: vamos ter que aprender a conciliar estas duas noções.»

Interessantíssimas, as linhas de raciocínio do professor Ollivier Dyens. «La révolution 'inhumaine'», a ler na íntegra no Le Monde.
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4.1.08

a maldição dos pais intrometidos

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Cultivamos o individualismo mas não valorizamos a autonomia - uma das constatações quotidianas no contacto com o universo de pais de crianças do 1º ciclo.
Claro que, a médio prazo, não pode deixar de ser contraproducente, como demonstra este estudo divulgado pela BBCNews: «The curse of the meddling parent».
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como as coisas simples

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«(...)Todos estes fenómenos de degradação são aspectos negativos, aliados ao facto de o conceito dominante ser o da quantidade: mais em detrimento de melhor. É por isso que é necessária uma reforma de civilização.
(...)
Uma política de civilização não deve deixar-se hipnotizar pelo crescimento.
(...)
É preciso abandonar o objectivo do 'cada vez mais' pelo do 'cada vez melhor'. O crescimento não passa de um termo puramente quantitativo.»

Edgar Morin, em discurso directo num chat do Le Monde, ou como pôr em termos simples os grandes desígnios civilizacionais.

[Para ler na íntegra: «Edgar Morin: 'La politique de civilisation ne doit pas être hypnotisée par la croissance']
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11.11.07

porto, porto

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Há um Porto de que poucas notícias nos chegam, quem é de fora não entra, quem é de dentro não gosta de falar.

No Aleixo, foi recentemente detida uma traficante de relevo, que trabalhava há mais de 15 anos sem que ninguém lhe conseguisse deitar a mão. Ressalve-se que grande parte disto decorre das características arquitectónicas dos blocos que constituem o bairro - seria absurdo imaginar uma rusga policial capaz de encontrar flagrantes quando para entrar nos domicílios é preciso subir muitos andares pelas escadas e passar despercebido em cada patamar.

Nas torres do Aleixo, em cada piso, os patamares são como os pátios comuns de antigamente: servem para secar a roupa, às vezes para instalar o tanque, para os velhos conversarem à soleira, para as crianças pequenas ensaiarem as primeiras correrias. Há mesmo quem delimite o espaço que rodeia a porta de entrada com redes e cancelas.

Nas torres do Aleixo, apesar da altura, há muitos anos que não há elevadores. Quando havia, eram usados como urinóis públicos por dezenas de pessoas, cabines e portas acabavam por não resistir.

O Aleixo visto de Gaia, imagem de A Baixa do Porto

As torres do Aleixo foram previstas para a construção de habitação de luxo em local privilegiado, junto ao rio. Deu-se entretanto a revolução, e a volumetria inicialmente aprovada acabou por ser adaptada a um projecto de habitação social destinada a abrigar a população da zona da Ribeira/Barredo, malha urbana com características de elevadíssima depressão económica e social. Vai daí, em cada piso construíram-se múltiplas habitações unifamiliares pequenas, o que faz com que um só andar abrigue tanta gente como um prédio de habitação social habitual.

As gentes carenciadas da Ribeira tiveram nova casa, sim senhor, mas nem por isso tiveram nova vida: é sabido que atrás da miséria vem a vida de expediente, do contrabando, do roubo, da prostituição, e os cursos de alfabetização não chegaram para abrir grandes caminhos.
Depois veio o boom das drogas por toda a cidade e a respectiva reacção policial. Foi uma questão de tempo: à medida que outros sítios foram sendo mais ou menos controlados e os bairros de lata demolidos, a quase inexpugnabilidade das torres do Aleixo fez delas o local onde a droga nunca faltava e onde toda a gente do meio acabava, mais cedo ou mais tarde, por se ir abastecer. Hoje, é o que (não) se vê.

O Aleixo faz do Porto um absurdo - ilha de miséria humana rodeada por condomínios de luxo protegidos por dezenas de seguranças 24 horas ao dia. A 100 ou 200 metros, até se consegue fazer de conta que não existe ali.

O Aleixo é um belíssimo exemplo de uma organização social espontânea de sucesso, comunidade em autogestão que a cada passo encontra as respostas adequadas à sua sobrevivência. Abandono escolar? E isso é problema? Isso é prestígio, isso é lucro - aos adolescentes entregam agora os traficantes a segurança do local. É eficaz: são doidos, por vezes inimputáveis, não têm medida de consequências. «É pior que favela carioca», diz quem cresceu numa delas.

Vem tudo isto a propósito do que me contaram um destes dias. Será o segundo caso, este ano, de toxicodependentes alvejados a tiro quando estão nas filas de espera (sim, às vezes as filas de 'agarrados' estendem-se pela rua, pior que as dos embrulhos de Natal no Continente, normalmente constituídas por indivíduos semidesfeitos em pleno síndrome de abstinência). Motivo para as duas mortes? Algum desses adolescentes armados um pouco mais doido resolveu praticar tiro ao alvo lá do alto...
[Há uns 15 anos, um antigo colega de liceu morreu lá esfaqueado por causa de... 2$50. Foi notícia no jornal.]

O Aleixo começará a resolver-se no dia em decidirem deitá-lo abaixo e iniciar tudo de novo, inserindo os seus habitantes em estruturas urbanas mais pequenas e permeáveis ao que as rodeia.

O Aleixo começará a resolver-se no dia em que completar o Ensino Secundário não seja o feito de uma vida para os seus adolescentes.

O Aleixo não terá solução possível enquanto o Porto não perceber que lhe pertence, tanto quanto a Torre dos Clérigos, a Casa da Música ou a Câmara Municipal.
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15.10.07

that's all, folks!

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«Castro speaks live on Chavez show»
(título da BBCNews)
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9.6.07

cursos práticos de cidadania

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«O exercício da cidadania pressupõe indivíduos que participem na vida comunitária. Organizados para alcançar o desenvolvimento da comunidade onde vivem, devem exigir comportamento ético dos poderes constituídos e eficiência nos serviços públicos. Um dos direitos mais importantes do cidadão é o de não ser vítima da corrupção.

De qualquer modo que se apresente, a corrupção é um dos grandes males que afetam o poder público, principalmente o municipal. Ela também pode ser apontada como uma das causas decisivas da carência e da pobreza das cidades, dos estados e do país.

A corrupção corrói a dignidade do cidadão, contamina os indivíduos, deteriora o convívio social, arruína os serviços públicos e compromete a vida das gerações actuais e futuras. O desvio de recursos públicos não só prejudica os serviços urbanos, como leva ao abandono obras indispensáveis às cidades e ao país. Ao mesmo tempo, atrai a ganância e estimula a formação de quadrilhas que evoluem para o crime organizado, o tráfico de drogas e de armas, e provocam a violência em todos os setores da sociedade. Um tipo de delito atrai o outro, que quase sempre estão associados. Além disso, investidores sérios afastam-se de cidades e regiões onde vigoram práticas de corrupção e descontrolo administrativo.

Os efeitos da corrupção são perceptíveis na carência de verbas para obras públicas e para a manutenção dos serviços da cidade, o que dificulta a circulação de recursos e a geração de novos empregos e novas riquezas. Os corruptos drenam os recursos da comunidade, uma vez que tendem a aplicar o grosso do dinheiro desviado longe dos locais dos delitos para se esconderem da fiscalização e da Justiça e dos olhos da população.

A corrupção afecta a qualidade da educação e da assistência aos estudantes, pois os desvios subtraem recursos da merenda e do material escolar, desmotivam os professores, prejudicam o desenvolvimento intelectual e cultural das crianças e as condenam a uma vida com menos perspectivas de futuro.

A corrupção também subtrai verbas da saúde, comprometendo diretamente o bem-estar dos cidadãos. Impede as pessoas de ter acesso ao tratamento de doenças que poderiam ser facilmente curadas, encurtando as suas vidas.

O desvio de recursos públicos condena a nação ao subdesenvolvimento económico crónico. Por isso, o combate à corrupção nas administrações públicas deve estar constantemente na pauta das pessoas que se preocupam com o desenvolvimento social e sonham com um país melhor para seus filhos e netos. Os que compartilham da corrupção, ativa ou passivamente, e os que dela tiram algum tipo de proveito, devem ser responsabilizados. Não só em termos civis e criminais, mas também eticamente, pois eles procuram fazer com que a corrupção seja aceita como facto natural no dia-a-dia da vida pública e admitida como algo normal no quotidiano da sociedade.

É inaceitável que a corrupção possa ter espaço na cultura nacional. O combate às numerosas modalidades de desvio de recursos públicos deve, portanto, constituir-se em compromisso de todos os cidadãos e grupos organizados que queiram construir uma sociedade justa e equilibrada. Devemos isso aos nossos filhos.

Em ambiente em que a corrupção predomina dificilmente prospera um projecto para beneficiar os cidadãos, pois suas ações se perdem e se diluem na desesperança. De nada adianta uma sociedade organizada ajudar na canalização de esforços e recursos para projectos sociais, culturais ou de desenvolvimento de uma cidade, se as autoridades municipais, responsáveis por esses projectos, se dedicam ao desvio do dinheiro público.»

Introdução à «Cartilha de Combate à Corrupção nas Prefeituras do Brasil», AMARRIBO, via Universidade Prà Gente, Vilaquistão.
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3.6.07

questão cigana

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Victor Marques, presidente da União Romani Portuguesa, denuncia hoje no «Público» as «forças políticas» e «instituições de cariz religioso» que terão «procurado protagonismos» à custa da situação da comunidade cigana do Bacelo, no Porto, constituída por 14 famílias agora realojadas em bairros sociais, depois de o local que habitavam ter sido destruído por razões de salubridade e saúde pública.
BE, PCP e Pastoral Cigana são apontados como querendo tirar dividendos de uma situação em cujo desenrolar se limitaram a passagens esporádicas pelo Bacelo. Quanto à Plataforma Artº 65, a acusação é mais séria:
«Por outro lado, Victor Marques critica particularmente a Plataforma, que reúne várias organizações, como a SOS Racismo ou a Solidariedade Imigrante, empenhadas na concretização do artigo 65.º da Constituição que consagra o direito à habitação. O líder da URP considerou irresponsável o comunicado que este movimento emitiu há cerca de uma semana, a afirmar que havia um sentimento de revolta entre os moradores do Bairro do Lagarteiro perante a eventualidade de ali serem realojadas as famílias ciganas do Bacelo, em casas ocupadas por inquilinos com rendas em atraso. Victor Marques afirma que, até a Plataforma levantar a questão, não havia qualquer mal-estar no bairro.»
Para ter direito ao realojamento, os membros da comunidade cigana estiveram dois meses alojados em pensões e a frequentar acções de formação sobre a vida em apartamentos.
Seia bom, no entanto, que as comunidades que os vão receber também aprendessem meia dúzia de noções, como episódios de vidros partidos que não resultam de actos de destruição, mas do simples facto de ser difícil a quem nunca usou dessas coisas criar hábitos para nós simples, como não deixar ficar as chaves dentro de casa. Um sem-número de coisas assim irá com certeza acontecer.

Em Matosinhos, pelos inícios dos anos 90, foi tentada uma experiência. A uns 300 metros aqui de casa, uma família cigana foi instalada em três pequenos pré-fabricados posicionados em semi-círculo, como um pequeno acampamento. Filhos e filhas foram à escola, como agora vão os netos. Lembro-me de uma das mais novas, que andava pelos 12 anos e escrevia poemas ingénuos que dava a ler à minha irmã, toda contente.
A dada altura, alguns dedicaram-se ao tráfico de droga, foram apanhados, cumpriram pena. Mas nisso em nada diferem de inúmeras famílias não ciganas a quem aconteceu o mesmo naquela zona, uma das mais carenciadas de Matosinhos, onde há 30 anos ainda se passava fome a sério e até um tasqueiro de meia-idade chegou a montar um negócio paralelo de venda de estupefacientes.
Com o passar dos anos cresceu uma sebe que dá privacidade ao centro do acampamento, fronteiro à rua, onde se desenrola o essencial da vida comunitária. Mas ainda é possível ver o asseio e o cuidado que dedicam às suas coisas, o mesmo que a princípio nos deixava um tanto surpreendidos.
Não sei como ganham a vida actualmente, mas passo por lá muitas vezes e nada vejo que indicie os movimentos que se geram à volta dos locais de venda de drogas ilícitas. Nem sequer a passagem de 'drogaditos' da zona cujas caras conheço há muito.

Claro que apartamentos ocupam áreas de terreno menores, claro que muitos sítios os terrenos escasseiam e claro que há os interesses imobiliários a ter em conta. Mas estas soluções que acabam por integrar comunidades e formas de vida diferentes no inteiro respeito por cada uma das culturas e tradições em presença parecem de longe ter mais substância.
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8.5.07


LE DÉSORDRE

C'EST L'ORDRE

MOINS LE POUVOIR.


Não me lembro da exacta origem desta frase. Pode ser de Maio de 68, ou pode ter sido Bakunine, Marcuse, Léo Ferré...
É a única que me ocorre, em qualquer caso, para assinalar a eleição do novo presidente francês.

22.4.07

in the springtime

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Na nonagésima-quarta primavera antes do fim do século:


- A novela universitária do primeiro-ministro não oferece assunto susceptível de comentário

- A história da Universidade Independente não traz nada que seja realmente novo

- Os media perdem-se a comentar as directas centristas, cujo número de possíveis eleitores não ultrapassa o número de espectadores de alguns desafios de futebol

- O mundo parece continuar perdido numa espécie de fase de revisão da matéria dada: repetem-se as receitas e contam-se as vítimas;


Algo digno de nota positiva acontece finalmente:



No meu jardim suspenso, ao fim de três anos a gardénia está a florir.


PS - Admirável, igualmente, foi a actuação de quem de direito em relação àquele grupo de gente estranha que anda a querer desfilar suásticas pelas ruas. E não é porque se evita a concentração em Lisboa - é porque andam de facto a praticar acções ofensivas, lesivas e ilegais.
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