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Acabei de ver «Gangs of New York» e não pode deixar de me vir à memória um trabalho que fiz num curso de Língua Inglesa, há alguns anos, em que nos foi proposta a redacção de uma crítica de cinema, por acaso uns dias depois de eu ter visto «Aviador»:
«The weird thing about this film is that it makes us travel along a few years of Howard Hughes' life guided by an absolutely brilliant eye – Scorcese's awkward art for showing genius and insinuating insanity is totally perceived only towards the end – with the constant opposition of the actor in the leading role, as Di Caprio is unable to reveal enough intensity to be convincing playing such a troubled mind.
Aware of what he was dealing with, Scorcese did a very good job trying to hide Di Caprio's lack of hability behind camera movements, lightening, make-up and similar effects. He could have been completely successful. He was close enough, but he was not.
On the other hand, this close distance to perfection might be the detail leading us to admire how perfect Scorcese's work can be. In spite of Di Caprio, a masterpiece.»
Acontece que, desta vez, Scorcese foi eficaz a resolver o problema: disfarçado de protagonista, Di Caprio é, na prática, apenas o pretexto para contar a história, uma personagem básica, com um objectivo mas sem grandes dilemas. E ele safa-se muito bem na coisa.
O protagonismo acaba por ficar nas mãos de Daniel Day-Lewis e Scorcese consegue - com a inclusão do 'artista' e mais uma vez com mão de mestre - resolver aquilo a que podemos chamar um verdadeiro 'cu de boi' na actualidade: o financiamento da produção do grande cinema de autor.
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Acabei de ver «Gangs of New York» e não pode deixar de me vir à memória um trabalho que fiz num curso de Língua Inglesa, há alguns anos, em que nos foi proposta a redacção de uma crítica de cinema, por acaso uns dias depois de eu ter visto «Aviador»:
«The weird thing about this film is that it makes us travel along a few years of Howard Hughes' life guided by an absolutely brilliant eye – Scorcese's awkward art for showing genius and insinuating insanity is totally perceived only towards the end – with the constant opposition of the actor in the leading role, as Di Caprio is unable to reveal enough intensity to be convincing playing such a troubled mind.
Aware of what he was dealing with, Scorcese did a very good job trying to hide Di Caprio's lack of hability behind camera movements, lightening, make-up and similar effects. He could have been completely successful. He was close enough, but he was not.
On the other hand, this close distance to perfection might be the detail leading us to admire how perfect Scorcese's work can be. In spite of Di Caprio, a masterpiece.»
Acontece que, desta vez, Scorcese foi eficaz a resolver o problema: disfarçado de protagonista, Di Caprio é, na prática, apenas o pretexto para contar a história, uma personagem básica, com um objectivo mas sem grandes dilemas. E ele safa-se muito bem na coisa.
O protagonismo acaba por ficar nas mãos de Daniel Day-Lewis e Scorcese consegue - com a inclusão do 'artista' e mais uma vez com mão de mestre - resolver aquilo a que podemos chamar um verdadeiro 'cu de boi' na actualidade: o financiamento da produção do grande cinema de autor.
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2 comentários:
Discordo totalmente. O DiCaprio é um excelente actor (brilhante em "Diamante de sangue", por exemplo), mas as pessoas (Scorsese excluído) vêem-no sempre com os filtros preconceituosos de uma carreira iniciada muito cedo e, essencialmente, do "Titanic" (se vier à cabeça essa coisa chamada Céline Dion, então, o caldo está mesmo entornado). De resto, Martin Scorsese escolheu-o como actor-fetiche não para seduzir a indústria, mas porque é o modo de funcionamento dele, num meio restrito, preferencialmente italo-americano (como com Robert De Niro).
Sem desprimor para o espantoso "Butcher" de Daniel Day-Lewis, que, de facto, esvazia tudo em redor.
Eu não acho que o Di Caprio seja mau actor, nem acho que tenha sido escolhido para assegurar bilheteiras neste filme. Um mau actor não se portaria tão bem, aqui e noutros sítios (ainda não vi "Diamante de Sangue", mas vi outros).
Também não o acho aquela maravilha, mas isso é coisa que só se encontra raramente...
O que acho é que Scorcese explora habilmente tanto as técnicas de narração quanto as de promoção do produto, servindo-se das circunstâncias.
Nem sei se é um actor-fetiche, ou se gostam de trabalhar juntos por qualquer razão, ou se vêm vantagens mútuas... o problema é deles e eu não tenho nada contra.
Agora, quanto ao «Aviador» - projecto em que foi Di Caprio a convencer Scorcese, de resto - francamente não gostei do desempenho: houve momentos cruciais em que não me conseguiu levar convictamente para dentro da acção.
E na estrutura narrativa de «Gangs de Nova Iorque» acho que a personagem de Day-Lewis acaba por ser o verdadeiro protagonista, e não é por uma questão de desempenho, mas não me choca particularmente que se escolha o 'artista' para cabeça de cartaz (as aspas não são depreciativas, servem apenas para distinguir aquele que, num conjunto, se sabe à partida que vende melhor o produto). Estou apenas a constatar.
Sobretudo, acho que estas trocas de ideias, ainda que estimulantes e divertidas, nada tiram à essência das duas obras em causa: cada uma delas merece ser vista várias vezes ao longo da vida!
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